Conheça essa visão

Folclore BR: Uma nova visão (2013-atualmente)

Uma outra perspectiva


Este vídeo é um resumão do projeto em 2017 😉

Em 2013, dei início ao projeto “Folclore BR: Uma nova visão”com o intuito de estudar novas formas de enxergar o folclore brasileiro. Através de ilustrações e contos que partissem do seguinte ponto: “E se aquela pessoa que disse ter visto um Saci não estivesse totalmente errada? E se essa criatura existir, mas a pessoa descreveu o que ela imaginou ser?”

Esse é um ponto que hoje passo a tratá-lo de outra maneira. A maneira que transmitimos conhecimentos de maneira oral traz uma série de complexidades que caminham por campos bastante estruturantes da cultura nacional e com o passar do tempo eu fui construindo que para entender  o folclore você precisa saber que faz parte dele mesmo sem querer.

Comecei recriando as lendas em contos de fantasia e terror, mas com o passar do tempo percebi que me sentia um pouco obrigado a ir por esse caminho e, estudando melhor as estruturas sociais e culturais que vivem em torno do tema, resolvi repensar o lado mágico do folclore.

Foi quando passei a entender que folclore significava “as maneiras de  pensar, sentir e  agir de  um povo, preservadas pela tradição popular e pela imitação, e que não sejam diretamente influenciadas” (Edison Carneiro).

A magia das matrizes

Vivemos em uma sociedade extremamente diversa que foi estruturada através de conflitos exploratórios da colonização. Preconceitos e apagamentos de culturas e civilizações, fazem parte da história do Brasil.

Muitas tradições, lendas, mitos foram introduzidas na cultura através da oralidade dos povos originários e africanos escravizados, misturadas a tradições e histórias dos povos europeus e nesse processo muitas dessas narrativas foram demonizadas com a cristianização ou simplesmente apagadas da história através pelo extermínio desses indivíduos que foram invadidos ou tirados de suas terras.

O mínimo que pensei em fazer foi pensar nessa base da oralidade e respeitar as mitologias ameríndias e africanas. Nessas bases a magia vive em torno de algo que busca o equilíbrio com a natureza, sem uma marcação irrestrita do bem e do mal, sem um Deus único e julgador, sem o ódio puro e simples.

A partir desse estudo inicial, pensei em retratar o folclore de maneira mais reflexiva, somando-se assim a vários outros temas que percorrem a sociedade atual e que, muitas vezes, são ditos como temas que uma criança só poderia aprender quando adulta ou que seguem como um tabu. Assuntos como preconceito racial, sexualidade, representatividade e morte.

A representatividade

Após o lançamento de meus primeiros quadrinhos autorais em 2016, resolvi extrapolar na ideia de representatividade e pensar melhor sobre o assunto.

Meus quadrinhos falam sobre mim e situações do meu cotidiano, demorou um pouco para que eu percebesse que não falava somente do cotidiano de uma pessoa qualquer, mas também de uma pessoa negra. Representatividade, era um assunto que eu já tratava sem perceber e, ao encaixar as ideias, decidi unir essa atitude ao “Folclore BR: Uma nova visão”.

Em um país em que cerca de 54% das pessoas se declarem negras, ter produções como novelas, séries e filmes com mais de 90% do seu elenco principal constituído por brancos é apenas um dos sintomas de que existe algum tipo de problema sério nesse meio.

Unindo essa ideologia de notabilidade social (seja indígena, negra e/ou LGBTQ+) aos conceitos mutáveis do folclore, decidi que precisaria criar algo que convidasse os brasileiros a pensar não só sobre o “ser brasileiro”, mas também sobre esses importantes temas e daí que veio a ideia de levantar umas provocações.

Os cartazes e a provocação

No início de 2017, criei uma série de ilustrações cruzando pôsteres de animações famosas com as minhas abordagens do folclore nacional sob a estética desses grandes sucessos de estúdios internacionais, como Disney, Pixar e Dreamworks. Com isso, o objetivo foi gerar uma curiosidade e chamar a atenção para os projetos que estou desenvolvendo divulgando essas ilustrações junto de sinopses que resumem as ideias.

Compartilhada e publicada em diversas redes sociais e portais pela internet, a provocação veio também com um tom de crítica ao mercado nacional de produções audiovisuais e a nossa cultura de adoração pelo mercado americano.

Diversos produtos gerados no mercado nacional falham diversas vezes em retratar o brasileiro comum, a representatividade negra, indígena, LGBTQ+ ou em referenciar nossas próprias tradições. Além de ser minha área de atuação, usei as animações como uma referência por ser um setor que possui pouco investimento e credibilidade no país e pela capacidade de chamar a atenção de um público mais diversificado.

A possibilidade do público mais jovem crescer em contato com esses conceitos estabelecidos, me inspiram a trabalhar as diversas ideias e formas de respeitar a cultura, com estudos que vão além das abordagens mais comuns, podem ser somados a reflexão sobre a sociedade e se atualizando com o seu tempo de uma forma que não caia no esquecimento.

Acredito no folclore como algo vivo que nasce e permanece dentro de nós. É necessário sempre traze-lo para junto da nossa realidade e não para se ter vergonha ou esconder em um livro no canto da biblioteca taxado como algo somente bobo e infantil (como se ser infantil fosse um problema também, vide Disney, Pixar e etc).

Conheça mais detalhes das ilustrações e sinopses AQUI.

O futuro do projeto

No momento estou estudando a melhor maneira de seguir em frente com o projeto de criar algo com apelo visual, seja uma história em quadrinhos ou um curta animado. Para prosseguir levantando as bandeiras que pretendo, esse trabalho precisa ser levado a sério com muita pesquisa e diálogo com pessoas que possam agregar conhecimento.

Acredito que precisamos aprender a dar mais valor ao que é nosso e deixar de tratar como algo inferior ou menos interessante. É necessário perpetuar o autoconhecimento, elevar alta estima da nação e cada um de nós deveria estar fazendo algo para ajudar nesse sentido, mesmo que dentro da sua família ou consigo mesmo.

A cultura brasileira é vista como uma grande besteira mais pelo próprio brasileiro do que por qualquer estrangeiro e esse é um tipo de desserviço que não quero fazer.

Conto mais sobre os planos futuros aqui neste post.

O evento Somando Visões

Em agosto de 2017, me reuni a Andriolli Costa e Mikael Quites para elaborar um evento virtual para festejar o mês do folclore e assim nasceu o FolcloreBR: Somando visões como resultado de uma série de todo trabalho de divulgação de projetos relacionados a nossa cultura que já fazia pelas redes sociais.

O objetivo principal do evento virtual é a divulgação de diversos projetos que se inspiram na cultura nacional, além de buscar compreender como é possível trabalhar com diferentes perspectivas sem desgastar o tema. Uma proposta de criar um momento para absorver novas ideias, observar o quanto já estamos imersos nesse milkshake cultural, analisar nossa empatia com esse tipo de trabalho e tentar pensar em como podemos contribuir para melhorar esse cenário.

O primeiro evento se concentrou no período de 16 a 22 de agosto de 2017, diversos autores e criadores de conteúdo estiveram reunidos para destacar o que está sendo feito nesse ramo. Foi delegado um subtema para cada um desses 7 dias para mostrar a diversidade existente no folclore nacional.

ACESSE AQUI TODOS OS PROJETOS EM ANDAMENTO